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Archive for agosto \03\+00:00 2009

A cozinha é o lugar mais vivo da casa: o espaço onde acontecem não só as refeições, mas as relações de afeto.


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Parte do texto de Mariana Lacerda para a Revista Vida Simples.

Em toda morada, a cozinha é assim: espécie de relógio que marca os compassos do dia, um coração que sensibiliza os limites do lar ao anunciar as horas e, nelas, os encontros entre todos. Uma casa que tem a cozinha funcionando plenamente é mais viva. Hoje é o lugar de encontro preferido da casa “porque há algo de mágico entre cozinhar, comer, beber e conversar”, diz o arquiteto Marcelo Ferraz, de São Paulo. Mas nem sempre foi assim.

Ao longo da história, a cozinha – seu tamanho e sua localização na casa – foi sendo modificada seguindo as mudanças de como nos relacionamos em família, nosso jeito de administrar o tempo e até mesmo, como não poderia deixar de ser, nossos hábitos alimentares.

No Brasil, as primeiras cozinhas foram as indígenas: fogareiros e, sobre eles, potes e tachos de cerâmica, no lado de fora das tabas e palhoças. Mas também, não raro, o fogareiro ficava dentro da taba para espantar os mosquitos e aquecer os moradores, sempre em volta do fogo.

Quando os portugueses chegaram por estas terras, a ajuda indígena foi de um valor inestimável. Para sua casa, o homem branco tomou emprestados do índio, além da rede e da canoa, panelas de barro e fogareiros a lenha, alguns ingredientes para a culinária – o principal deles a mandioca.

Assim, o índio foi dando sua contribuição à cozinha que aos poucos seria chamada de brasileira – e que seria bem diferente sem a presença do negro, que, como escravo dos portugueses, também deu sua contribuição.

Até bem pouco tempo atrás e mesmo ainda hoje, o desenho de nossas cozinhas reflete nosso passado ligado à escravidão: a sala aparece isolada da cozinha, que por sua vez é seguida de área de serviço e quarto de empregada. Um modelo cujas bases ainda se encontram em nossa herança escravocrata.

Na Europa, contudo, as casas e apartamentos foram planejados sem levar em consideração a presença de domésticas. A cozinha tradicionalmente constituía uma espécie de apêndice da sala de estar, pois jamais foi pensada, com exceção daquelas dos palácios da corte, para contarem com a ajuda de empregados.

Na virada do século 20, surgiu a Cozinha de Frankfurt, uma invenção cujo projeto saiu das mãos de uma mulher. A arquiteta alemã Margarete Lihotzky inovou ao propor uma cozinha pequenininha, planejada, e onde todos os utensílios estavam sempre visíveis. Sua criação ganhou o nome de “cozinha-máquina”, pois a idéia principal era a utilização racional dos espaços e dos utensílios para facilitar o trabalho feminino que, já não era sem tempo, deixava de ser apenas caseiro para ganhar o mercado de trabalho.

Vem dos Estados Unidos, contudo, o jeito cada vez mais recorrente nas metrópoles brasileiras de projetar a cozinha: colocá-la junto à sala. Trata-se da cozinha americana. Que é também compacta, pequena, com peneiras, conchas e facas à mostra, mas com uma diferença em relação à Cozinha de Frankfurt: está ligada à sala. É uma forma de ganhar espaços e aproximar quem cozinha do convívio social. “Hoje a sala passou a ser cozinha”, diz Marcelo Ferraz.

O arquiteto lembra que, muito embora essa seja uma tendência cada vez maior nas novas residências, sobretudo em reformas, a cozinha integrada à sala é comum nas casinhas interioranas, onde o espaço sempre foi reduzido.

Recentemente, surgiu o conceito de cozinha Gourmet: O ambiente gourmet tem como característica principal servir de ponto de encontro entre o cozinheiro e seus convidados. A proposta é integrar os amigos e a família, ao mesmo tempo em que é possível preparar alimentos sem precisar ficar isolado na cozinha. O ponto forte da cozinha gourmet é a ilha, uma mesa central que reúne as pessoas em torno do cozinheiro. Outra característica forte da cozinha gourmet é que os utensílios, eletrodomésticos e condimentos saem dos armários e ficam expostos, como parte da decoração.

Gourmet (clickaumentável)

Gourmet by Karla Silva (clickaumentável)

Parece até trivial, mas, se você parar para pensar, existe algo de muito especial em permanecer horas e horas em volta de uma mesa, compartilhado conversas e garrafas de vinho enquanto um prato sai do forno. E por isso mesmo a cozinha tornou-se o lugar preferido de uma moradia. Seja para quem cozinha, seja para quem saboreia.

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